Mais uma vez estava ele ali, olhando para o nada, com a mente voltada em tudo o que passara nas últimas horas. Os dias estão cada vez mais complicados de serem vividos, as horas nunca passam no ritmo que queria e quando menos esperava, o dia já acabara e novamente não pôde viver como queria.
Sua maior vontade era ter um mundo só seu, um mundo onde não pudesse ser apenas mais um ali passando do outro lado da rua ou aquele por trás de uma janela olhando para o céu. Queria um lugar perto dos seus sonhos, perto de tudo o que sempre quis ser e nunca foi, de tudo o que sempre quis e nunca teve, perto dele, apenas dele.
A rotina do dia-a-dia não sustentava mais suas ambições, era tudo tão normal. Não que a normalidade fosse ruim, mas era um pouco sem graça. Justamente a graça que tentava buscar em tudo o que fazia, em tudo o que dizia e até do que comia. Preferia viver olhando aquilo que não pertencia ao normal, admirando o que lhe era, as vezes, tão absurdo, rindo daquilo que era, as vezes tão comum.
Nunca tinha descoberto nada que pudesse curar esse seu mal, o mal de não querer ser tão normal, por mais que ser normal não fosse ruim. Queria aquele veneno antimonotonia que sempre ouvia na voz de Cassia Eller.
No quarto passando o tempo esperando o tempo passar, resolveu ver se tudo o que vivera tinha realmente sido tão chato quanto achava que tivera sido. Foi mexer nas suas coisas antigas. Aquelas coisas empoeiradas no canto tinham ficado ali por algum motivo, talvez por que algum tinham sido especiais. Fotos de momentos especiais, desenhos de momentos inesquecíveis e ... um livro...um livro? O que ele fazia ali? Quem o colocou ali?
Tirou a poeira e abriu, é tão normal ver e abrir livros. Resolveu ler, isso sim não é tão comum como se pensa. A cada linha lida uma vida de volta. Nossa, foi ele próprio que escreveu. Tinha uma letra linda, quase de menina. Riu das besteiras que escrevia, riu de como escrevia. Será que um dia ainda conseguiria escrever assim? Sem preocupação com o que escrevia, sem preocupação com quem lia. Apenas escrever. Como era bom contar a si próprio o que sentia. Sabia que leriam tudo, mas escrevia para si.
Resolveu voltar a tudo o que tinha passado antes. Resolveu voltar a sonhar, resolveu voltar a ser dono de um mundo só seu, resolveu voltar a amar alguém que ele queria que o amasse também. E passou o tempo assim, resolveu voltar a escrever. Pois viu que ali o tempo também era seu.
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